Um mundo sem cor
Sabe aquele
momento em que você passeia pelas ruas e acompanha o voar dos pássaros, o
reflexo do sol nos rios, o balanço das árvores com o vento? Pois é, cansei de
tudo isso. Toda essa beleza pré-determinada, todo esse estarrecimento pré-idealizado
me fez perceber o quanto tudo na vida é controlado: cada passo, cada movimento,
cada pensamento, cada sentimento. Tudo é pré-determinado. Não que em um todo
isso seja ruim, não! Realmente há certas coisas que existe a necessidade de um
planejamento, de uma estrutura.
Mas o que
aconteceu com o aquele sentimento de surpresa, aquela que faz um simples “eu te
amo” ser algo tão inesperado, tão improvável, tão bom. O que me diz daquela
vibração, daquela energia, daquela boa ansiedade. Estão quase extintos. Hoje em
dia é tudo programado, tudo mecanizado, tudo esperado, tudo sem cor.
Ando pelas
ruas e noto que até os olhares mudaram, não vejo mais aquele brilho, aquela consistência,
sabe. Tudo se “normalizou”, tudo virou rotina: até aquele simples “eu te amo” é
algo que você escuta de qualquer lugar, de qualquer pessoa e fala por qualquer
motivo. Se pararem para notar que até mesmo os filmes, que antes ludibriavam e
aqueciam os corações das pessoas a exemplo do ilustre Chaplin, hoje se tornaram
algo sem paixão, sem propósito.
E o que me dizem
das ruas? Cheias de “corações partidos”, de “barrigas famintas”, de “peles com
frio”... Enquanto o mundo se farta de materialidade, de relógios com “ponteiros
rápidos”... Há pessoas que no auge da precariedade são forçadas a despirem de seu orgulho a
ponto de implorar por dignidade e o mínimo para viver.
Nossos
cérebros monopolizaram-se através da mídia. Nossas esperanças castraram-se a partir
da descrença na justiça social, nossas ações codificaram-se e tornaram-se algo
sem personalidade e nossa cultura, antes rica de emoção, vontade, mudança,
evolução – hoje plena de preconceito, permissividade, agressividade, banalização,
depravação e ganância.
Hoje o mundo é das “Novinhas e Novinhos” com seus Iphone’s a tocar um tal de “Tchu Tcha Tcha” sem fim. Se foi o tempo das inovações sociais, aquela época dos grandes filósofos, escritores, pintores... Hoje até a arte que sempre foi revestida de Cor, “mendiga” por mentes abertas, brilhantes, únicas. Estamos em tempo de Globalização do mundo, onde os homens perderam a sua individualidade de pensamento e a “grande massa” instaura a Era da Mesmice.
Cadê o
brilhantismo da ciência, da economia, da política manifestadas em prol de toda
a sociedade? Cadê o calor transformador de nossos corações? Cadê o senso
humanitário das pessoas? Cadê aquela vontade fulminante de mudar esses
conceitos, por muitas vezes, decaídos ainda existentes no nosso dia a dia? Cadê
as “cores da simplicidade diária”, o envolvimento com o próximo, a cura
energética da solidariedade? Onde
nós estamos?
Texto de Priscila Torres P. Calado
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